O Tai Chi Chuan (escrito como Taijiquan em Pinyin) é hoje em dia uma das práticas de bem-estar e de exercício saudável de baixo impacto mais divulgadas no mundo inteiro. Desde as suas origens modernas, em meados do século 19 até à actualidade, foi evoluindo e transformando-se, desde a sua prática original quase exclusiva como arte marcial, até à prática como exercício suave, movimento terapêutico e de transformação psicológica, prática de meditação em movimento, e método de promoção da saúde e da longevidade, fechando assim um verdadeiro ciclo de regresso às suas origens de inspiração Daoista, contidas no seu próprio nome.
Tai Chi é uma expressão que pertence ao Daoismo e à sua cosmologia, e que designa um momento particular no contínuo ciclo de geração, não só Universo, mas de todas as situações e seres. Na cosmologia Daoísta, Tai Chi significa "o momento ou direcção ou origem supremos", aquele momento em que o Universo, ou qualquer outra situação, por analogia, saem duma fase inicial de simples potencial e geram pela primeira vez o Yin e o Yang, ou seja, o potencial para o movimento, a transformação, a evolução. Esse momento é bem representado pelo célebre símbolo do Yin e Yang, em que se começa a ver a alternância entre estas duas forças. No pensamento chinês, muito feito por analogias, esta ideia de Tai Chi é aplicável a muitas situações do dia-a-dia ou outras, e simboliza uma capacidade de fazer face aos obstáculos, à vida, aos acontecimentos e à mudança, que se baseia no entendimento do Yin e do Yang, e na capacidade de alternar entre os dois natural e espontaneamente. Chuan significa punho, e é geralmente usado para designar um sistema de arte marcial. A junção do conceito de continuidade da energia, através da intermutação constante entre energia Yin e em energia Yang, com a noção de punho, leva a que Tai Chi Chuan se pode traduzir como Punho Contínuo.
Na prática do Tai Chi Chuan, a componente fundamental é a Forma, uma coreografia que segue uma sequência de movimentos de inspiração marcial, e semelhante a práticas comuns noutras artes marciais (como as kata do Karate, por exemplo). Esta Forma varia consoante o estilo, mas no geral todas as formas de Tai Chi apresentam elementos em comum: uma exigência de relaxamento e descontracção dos movimentos, que devem ser naturais e suaves, um ritmo lento de movimento, que pode levar o praticante a executar a forma em 10, 15 ou mais minutos, uma ênfase numa respiração profunda e natural, no acalmar da mente e no atingir dum estado meditativo durante a prática. Cada estilo e cada professor terá as suas próprias características, como a sequência de movimentos ser executada à mesma velocidade, incluirão ou não outras práticas e exercícios, como estiramentos e aquecimentos, movimentos de Chi Kung ou meditação em pé. Mas o objectivo, quando consideramos a prática do Tai Chi Chuan como uma prática terapêutica e não marcial, será sempre o de recuperar uma capacidade natural de movimento, de relaxamento, de alinhamento e postura, e promover a saúde, a longevidade e o bem-estar do corpo e da mente.
A transformação do Tai Chi Chuan de arte marcial em método de exercício suave iniciou-se nas décadas de 1920 e 1930, num processo semelhante ao de outras artes marciais (como por exemplo o Judo, fundado por Jigoro Kano, ou o Aikido de Morihei Ueshiba), e atingiu o auge da sua popularidade nos anos mais recentes na China, mas também no Ocidente, onde é hoje considerado como um dos melhores exercícios para a terceira idade, por exemplo. Numa sociedade profundamente divorciada dos ritmos naturais, como a nossa, e em que o stress e o sedentarismo se converteram nos maiores inimigos da saúde pública, o Tai Chi Chuan também já tem provas dadas. Inúmeros estudos têm comprovado a sua eficácia no combate ao stress e a doenças que lhe estão associadas, como a hipertensão, a depressão, os problemas cardiovasculares, e os seus benefícios também são notórios em muitas outras doenças da "modernidade" e da "civilização", como a osteoporose, o diabetes, a asma crónica, etc.
O Tai Chi Chuan continua a ser praticado em todo o mundo como arte marcial, mas atingiu entretanto um estatuto adicional, como prática ligada ao bem-estar, à saúde e à mobilidade, e mais do que isso, como prática de auto-desenvolvimento e expressão individual, de "performance" interior e exterior, capaz de permitir que cada um de nós aumente o seu potencial humano. É nessa perspectiva que a nossa Federação entende o Tai Chi Chuan, sem de modo algum invalidar qualquer outra abordagem, e que o considera como um dos tesouros imateriais que a Civilização Chinesa deu ao mundo.